Terminou sem entendimento a reunião
desta quarta-feira (15.03), em Bissau, para analisar a proposta avançada pelo
líder do Parlamento para solucionar a crise.
A
reunião do Conselho de Estado da Guiné-Bissau convocada pelo Presidente
guineense, José Mário Vaz, para debater uma proposta para tirar o país de
impasse político terminou sem que houvesse entendimento entre os conselheiros.
O líder do Parlamento, Cipriano Cassamá, afirmou que a sua proposta para acabar
com a crise política - que passava pela formação de um novo Governo - não
mereceu a concordância do Presidente guineense, a quem acusa "de estar a
brincar com o povo".
Domingos
Simões Pereira, antigo primeiro-ministro e líder do PAIGC, principal partido no
Parlamento, considera que o Presidente José Mário Vaz tem dificuldades em
conduzir "um debate sério e construtivo", daí que a reunião desta
quarta-feira não trouxe os resultados desejados, afirmou. O líder do PAIGC
considerou que agora é que se deve falar numa grave crise institucional na
Guiné-Bissau e não na altura da demissão do seu Executivo, em agosto de 2015.
Vitor
Mandinga, porta-voz do Conselho de Estado, considerou por sua vez que não
se pode falar em bloqueio das instituições da República mas sim do encerramento
deliberado do Parlamento por parte do PAIGC. Segundo Mandinga, deputado e
também ministro do Comércio e Promoção Empresarial, o Parlamento é única
instituição do Estado guineense que não está a funcionar pelo que não se pode
falar de uma crise generalizada no país, observou.
Os
conselheiros do Estado guineense que falaram aos jornalistas no final da
reunião desta quarta-feira, que durou cerca de cinco horas, não souberam
precisar se um novo encontro será convocado pelo Presidente guineense.
Impasse
continua
A
proposta de Cassamá, que passava pela formação de um novo Governo apoiado
pelos cinco partidos com assento no Parlamento, não foi levada em
consideração pela maioria dos conselheiros do Estado. "Continuamos na
mesma situação de impasse, nós acabamos de sair de uma farsa", acusou o
líder do Parlamento.
Divergências
na interpretação do regimento do funcionamento do Parlamento entre os dois
principais partidos no órgão, PAIGC e PRS, têm levado ao bloqueio do hemiciclo
há mais de ano e meio. O facto tem levado a que vários governos não
consigam apresentar aos deputados os seus planos de acção e propostas de
Orçamento Geral do Estado.
Cipriano
Cassamá propõe a aplicação do Acordo de Conacri, instrumento político
patrocinado pelos líderes da África Ocidental como saída da crise política
guineense.
Entre
outros pontos, a proposta sugere a formação de um novo Governo, liderado pelo
dirigente do PAIGC, partido vencedor das últimas eleições legislativas, Augusto
Olivais, e integrado pelas cinco formações políticas com assento parlamentar.
Na
proposta, o PAIGC teria 17 pastas ministeriais, o Partido da Renovação Social
(PRS), 12, o PCD, a UM e PND, teriam uma pasta cada e seria um governo
inclusivo e de consenso.
Todo
o processo constitucional para a nomeação e entrada em funções do Governo
levaria até o máximo de três semanas, sugere o presidente do Parlamento
guineense, que acredita que desta forma se acabava com o impasse político no
país.
Têm
assento no Conselho de Estado, os líderes de partidos com representação
parlamentar, titulares de órgãos de soberania e cinco figuras indicadas pelo
Presidente da República mas as apreciações do órgão não são vinculativas.
Cinco
organizações internacionais preocupadas com crise na Guiné-Bissau
A
ONU, a União Africana, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental,
a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e a União Europeia assinaram esta
quarta-feira (15.03) uma declaração conjunta na qual manifestam
"preocupação" pela crise política na Guiné-Bissau.
As
cinco organizações internacionais parceiras do processo de consolidação da paz
na Guiné-Bissau, agrupadas sob a designação P5, consideram que "o clima
político na Guiné-Bissau é cada vez mais caracterizado por um aumento das
tensões políticas e sociais, bem como uma escalada verbal" dos atores
políticos, "num contexto de acusações e contra-acusações mútuas".
"As
manifestações de rua de 09 e 11 de março patrocinadas por forças políticas
rivais e algumas declarações recentes de políticos proeminentes membros da
Assembleia Nacional Popular ou do Governo são disso exemplos
inquietantes", afirma o P5.
Imperativo
parar com "aspiral de tensão”
Assim,
realçam as organizações, "é imperativo parar esta espiral de tensão antes
que se transforme em excessos violentos".
Por
isso mesmo, o grupo de organizações "apela solenemente a todos os atores
políticos na Guiné-Bissau para colocarem os melhores interesses da nação no
centro das suas ações".
Por
outro lado, exige "contenção e a moderação" nas declarações, apelando
a que "opiniões e desacordos" sejam expressados
"pacificamente" e "de acordo com a lei em vigor".
O
P5 exorta ainda o Presidente da República da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, a
"usar toda a sua autoridade moral para garantir o respeito pelas
instituições e o Estado de Direito" e assegurar a resolução dos diferendos
por meio do "diálogo, canais legais e espírito de consenso".
O
grupo também convida o Presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP) e os
líderes dos partidos políticos representados no parlamento a "mostrarem
responsabilidade e darem a sua contribuição para evitar o agravamento da
tensão".
As
cinco organizações recordam que o Conselho de Segurança da ONU, o Conselho de
Paz e Segurança da União Africana e a Autoridade dos chefes de Estado e de
Governo da CEDEAO consideram os Acordos de Conacri como o melhor meio
diplomático para resolver a crise na Guiné-Bissau.
Divergências
subsistem entre PAIGC e PRS
Divergências
entre as duas principais forças políticas no Parlamento guineense, o Partido
Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e o Partido da
Renovação Social (PRS), levaram ao bloqueio da instituição desde há cerca de
ano e meio, pelo que sucessivos governos não conseguiram fazer aprovar os seus
planos de ação ou propostas de orçamento.
O
PAIGC, partido vencedor das últimas eleições legislativas, mas afastado do
poder devido às divergências com o Presidente guineense, diz que o impasse político
só irá terminar com a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições
gerais antecipadas.
Uma missão da CEDEAO em novembro conseguiu chegar a
um consenso entre as partes para nomear um novo primeiro-ministro da
Guiné-Bissau, no seguimento dos "Acordos de Conacri", assinados um
mês antes. No entanto, mais de seis meses depois o impasse continua.
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