Sr. Presidente, qual é de
facto o seu papel; quais são as suas competências constitucionais, face a tudo
o que tem acontecido na Guiné-Bissau desde que assumiu a chefia do Estado?
A crise política e social é para manter até ao final da
legislatura?
Assume que de facto tem cumprido com o seu juramento de tomada
de posse, ao abrigo do Artigo 67º da Constituição da República da Guiné-Bissau?
“Juro por minha honra defender a Constituição e as leis, a
independência e a unidade nacionais, dedicar a minha inteligência e as minhas
energias ao serviço do povo da Guiné-Bissau, cumprindo com total fidelidade os
deveres da alta função para que fui eleito”.
Sr. Presidente da República, Dr. José Mário Vaz, por que razão
apresentou 3 nomes para Primeiro-ministro, quando já tinha um Primeiro-ministro
e um Governo em funções ainda que sem a necessária legitimidade parlamentar,
consequente da não apresentação e discussão do Programa do Governo e do Orçamento
Geral do Estado, por via do bloqueio da Assembleia Nacional Popular?
Não seria mais sensato insistir no desbloqueio da Assembleia
Nacional Popular como forma de viabilizar quer o Parlamento quer o Governo e em
resultado disso, pôr-se fim à crise, na sua vertente institucional, que aliás,
é a que prejudica o Estado e o Povo?
A Guiné-Bissau e os Guineenses ganharam algo com o Acordo de
Conacri, ou voltamos ao ponto de partida com o PAIGC a reivindicar a vitória
nas eleições legislativas de 2014 e, por via disso, ter direito a liderar o
Governo inclusivo abordado na Mesa Redonda de Conacri?
Voltamos ou não a reavivar a crise com o Acordo de Conacri?
E como pensa, Sr. Presidente da República, resolver o bloqueio
na Assembleia Nacional Popular com um Primeiro-ministro de sua escolha, de sua
confiança, o que é inconstitucional, mesmo com base no Acordo de Conacri?
Para que serve a Constituição da República, Sr. Presidente?
Para que servem as Leis da República da Guiné-Bissau, Sr.
Presidente?
O que representam os Órgãos de Soberania da Guiné-Bissau?
Será que doravante a Organização Política da República da
Guiné-Bissau será regulada pela CEDEAO, UNIÃO AFRICANA, ONU ou CPLP?
E no dia que decidirem propor a substituição do Sr. Presidente
da República?
É que, por culpa dos actores políticos guineenses, com o Sr.
Presidente da República à cabeça, a nossa Constituição deixou de servir para
regular a Organização Política do nosso Estado, ao ponto de passarmos a ter que
ir ao encontro de políticos e governantes doutros países e esperar por datas
pré-anunciadas por este ou aquele, que são Chefes de Estado de outros países e
em nome de certas organizações a fim de decidirem o destino da Guiné-Bissau e
dos Guineenses...
Lamentável e triste realidade, Sr. Presidente da República, ao
que chegamos!
Foi para sermos dirigidos por outros que se lutou arduamente,
com tanto sangue derramado, até se conquistar a independência?
Onde está o respeito por todos quantos lutaram (entre mortos e
sobreviventes) pela independência da Guiné-Bissau?
Ao longo desta crise, defendi sempre não haver um só culpado, na
pessoa do Presidente da República. Reafirmo essa posição, mas não consigo
“encaixar” que o Presidente da República continue a cometer erros de palmatória
no exercício das suas funções, prejudicando o Estado e o Povo, a exemplo dos
demais actores políticos, igualmente partes da crise.
A crise política já vai longe demais, Sr. Presidente da
República.
Caso persista o bloqueio no Parlamento e se o Presidente da
República não conseguir harmonizar as disputas políticas para o desbloquear (o
Acordo de Conacri já se viu que não resultou), terá que assumir as suas
responsabilidades face ao realismo de não haver uma alternativa de estabilidade
política e governativa até ao final desta legislatura, dissolvendo a Assembleia
Nacional Popular (tal como estabelece a Constituição da República para
situações de grave crise política) e convocando eleições legislativas
antecipadas.
Podemos questionar o que resolveria a realização de eleições
legislativas antecipadas; ou quem as financiaria. Creio que todos teriam razão
em função dos seus argumentos.
O certo é que os custos e os prejuízos materiais consequentes do
bloqueio do Parlamento e da ausência de uma Governação fiscalizada, como tem
sido ao longo da crise, põem em causa a sustentabilidade do Estado de Direito e
Democrático e reflectem igualmente custos e prejuízos humanos, sociais e
económicos avultados.
Mesmo que não haja condições logísticas abrangentes para
organizar e realizar eleições legislativas num prazo legal e realista, a
dissolução do Parlamento significa automaticamente o seu desbloqueio. Porém, é
preciso que quem de direito saiba o que terá que fazer se isso vier a
acontecer, para se viabilizar o país. Tenho obviamente as minhas ideias sobre o
assunto, mas não faço questão de apresenta-las no momento presente.
Se o Sr. Presidente da República não estiver à altura das suas
competências constitucionais, sempre pode renunciar ao seu mandato, de forma
livre e consciente, mas por favor, não continue a hipotecar o futuro da
Guiné-Bissau, delegando a Chefes de Estado de outros países, bem como
Organizações regionais, continentais, mundiais e outras a tomada de decisões
soberanas, ou seja, que todo um Povo delegou nos representantes políticos que elegeu,
entre o Presidente da República e os Deputados da Nação.
Positiva e construtivamente.
Didinho 07.12.2016
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