O título proposto não tem nada de contraste ou ambiguidade. É, sim, a
conclusão resultante do olhar psico-sociológica da mutação política guineense
na crise vigente que teimosamente ofusca de que maneira a esperança de um povo,
de uma geração.
A maioria dos guineenses e cidadãos estrangeiros atentos à situação do
país, independentemente de sensibilidade política que cada um defende,
partilham a ideia em como a atual crise é grave, gravíssimo, e os políticos
bateram records jamais visto na história desta pátria
idealizada por Amílcar Cabral e seus combatentes da liberdade.
Assim, convenhamos que esta crise política é “maldita”, por ser
demasiada longa, frustrante. Se o martirizado povo tentou esperar por melhores
dias há quarenta anos da independência do jugo colonial e da dependência do
PAIGC, neste momento mesmo com sono profundo, sonhar é praticamente uma equação
impossível.
O que terá acontecido? Por que é que a crise durou tanto? Nunca terá
existido crise desta dimensão? Estaríamos perante uma “boa transição” política,
implicando seus custos? Depois da tempestade vem a abonança? As respostas a
estas questões podem, sob olhar diferente, ajudar a entender e admitir que,
embora pese, estamos a viver uma transição política – bem-vinda na
história do país.
O que aconteceu realmente e continua a fustigar o cenário político
guineense é devida retirada de alguns figurinos impróprios no jogo e
consequente mudança forçada de tática dos restantes atores sócio-políticos.
Essa transformação consumiu e tem consumido o tempo (necessário?) e criou novos
comportamentos e novos atores.
Sempre existiu crises que seguramente começa ora no seio de camaradas da
mesma formação partidária, ora na tática política entre partidos. Porém,
resolvia-se geralmente quase que num instante, através de neutralização de
adversários (desobedientes, entende-se) por várias formas (física, moral) e/ou
ainda através de executores voluntários – os militares, através de golpes,
contra-golpes, inventonas, intentonas teoricamente justificadas.
Assim, registamos de boa memória várias crises, graves, mas de curta
duração, pintadas e sempre em cada caso, o regime que tirar proveito afigura ao
Zé-povinho de Bandim um monstro responsável pela crise.
O surgimento da atual crise política e institucional não é
atípico, comparativamente às outras crises registadas na Guiné. Estamos perante
uma mudança inesperada, com efeitos de resistência e tentativa de adaptação – “lama
kema kau di sukundi ka tem” – a máscara caiu e assistimos felizmente e
infelizmente a real demonstração do nível de preparação e bagagem dos nossos
políticos.
Neste novo paradigma no contexto político em metamorfose que
consideramos de “bendita” transição política no sentido positivo, notamos que a
Democracia ganhou alguns pontos bastantes significativos, com a:
– Retirada de militares no jogo político, outrora feitos bombeiros à
conveniência de alguns atores políticos;
– Ausência de métodos obscuros de restrição de exercícios cívicos e
políticos no interior de uma formação partidária;
– Evolução positiva da liberdade de expressão de cidadãos comuns;
– Fim do monopólio de canais de comunicação/informação e propaganda,
graças à multiplicação de canais e democratização de acesso às novas
tecnologias de informação e comunicação.
Estes fatores deram um impulso na jovem democracia do país, originando
de um lado, a valorização dos poderes judiciais, como elemento fundamental num
Estado de direito; por outro lado, o surgimento de movimentos populares que
tentam reclamar seus direitos enquanto governados – o povo – elemento
incontornável na política, até aqui passivo e conformado.
Com o reposicionamento feliz de atores, oxalá que esta bendita transição
política que apanhou os politiqueiros “amontons” surpresos permita a mudança
para nova abordagem da Democracia onde o bem comum vai primar. Melhores dias
virão!
Por: Redação
O democrata.
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