Por: Timóteo Saba M’bunde,
Mestre em Ciência Política.
A nomeação de Úmaro Sissoco Embaló ao cargo de Primeiro-Ministro
pelo Presidente José Mário Vaz constitui um enorme castigo desferido por este
último ao PAIGC de Domingos Simões Pereira. Se o PAIGC de Domingos Simões
Pereira merece ou não essa retaliação política por parte do primeiro magistrado
da nação, é outro debate. O facto é que a rejeição pelo JOMAV de todos os
possíveis nomes propostos pelo PAIGC para assumir a chefia do executivo revela
o quão radicalizado e intransigente é o nível da corrente polarização política
que se vê no país.
Penso que a nomeação de Sissoco, cujo governo nem foi ainda
formado, não é indício de apaziguamento dos hodiernos conflitos políticos na
Guiné-Bissau e muito menos constitui sinal de abertura do processo da
necessária consolidação de estabilidade política. Pelo contrário, no meu ponto
de vista esse avanço do Presidente Vaz sinaliza mais um passo dado com vistas a
decapitação política do PAIGC presidido por Simões Pereira, algo que este
último se atenta e não poupará esforços para abortar. A reação imediata do
PAIGC e do seu presidente à nomeação do jovem Embaló, manifestando a sua
absoluta demarcação em relação ao governo que este liderará, indica que o PAIGC
tende a buscar inviabilizar o referido governo, que constitui uma potencial
ameaça ao futuro político do líder dos independentistas e integrantes do seu
círculo político.
Podem dizer o que querem de Simões Pereira, aliás, ele cometeu
alguns equívocos e erros que politicamente lhe custam muito caro hoje, mas ele
me parece uma figura política inteligente e precavida. Sem nenhuma pretensão e
intenção minha de fazer apologia à violência e intransigência política no meu
país, mas, a partir de um olhar isento e apartidário da realidade política
guineense, ao PAIGC e a Simões Pereira se justifica politicamente tentar
inviabilizar e abortar o governo que está por se formar, do qual o
Primeiro-Ministro não foi indicado pelo PAIGC. Caso contrário poderá ser
eventualmente monumental a magnitude de sua sangria política.
Até que o PAIGC e o seu líder poderiam não só adotar a
estratégia de demarcação política do novo executivo, como também juntar os
cacos e se preparar para o embate eleitoral de 2018, sem necessidade de ações
de boicote ao futuro governo. Seria uma forma de galvanizar a legitimidade
política seriamente maculada e deixar todo o ônus político do país com o JOMAV
e seus aliados políticos, contudo seria uma estratégia carregada de grande
risco de desdobramentos imprevisíveis que pudessem esvaziar o próprio líder do
PAIGC dos seus importantes colaboradores políticos mais ávidos por cargos no
governo. Vide o caso de Botche Candé. Candé, que era um elemento importante e
aparentemente leal ao DSP, não hesitou em abandonar até então o seu aliado
político, assim que este último não tinha mais a máquina de governação e logo
no primeiro convite para assumir funções de ministro no governo que naquele
momento era contestado pelo PAIGC.
Esqueçamos só por um instante o idealismo e romantismo político
e assumamos o viés realista de abordagem política. José Mário Vaz é, antes de
Presidente da República, um ator político que naturalmente se preocupa com o
seu futuro político. Para JOMAV é cristalina a percepção de que não terá um
futuro político risonho com DSP liderando o PAIGC, o que significa que a
decapitação política do líder dos libertadores hoje, digo hoje, passa a ser de
vital importância política ao Presidente da República. Já o rival político do
chefe de Estado percebe a instauração de um eventual governo sólido e produtivo
sem a liderança do PAIGC, partido que deveria governar, como uma ameaça que
pode conduzir ao seu esvaziamento político no partido e no plano nacional,
consequentemente. Além de declarações incisivas de deslegitimação do novo
governo patrocinado pelo JOMAV, a mobilização da militância e elite dirigente
do PAIGC através de um contundente discurso de coesão e unidade constitui uma
estratégia encontrada por DSP como forma de controlar e proteger o seu círculo
político de eventuais cooptações políticas palacianas.
O líder do PAIGC e seus mais diretos colaboradores políticos tendem
a ver eventual sobrevivência e caminhada normal do governo em questão como uma
condição possível de gerar seu isolamento político. Por outro lado, se o
governo de Sissoco fracassar, o pouco capital político que ainda resguarda o
questionado Presidente da República se evaporará dele.
É muito difícil que o executivo de Sissoco Embaló venha a ter
pernas para andar. O PAIGC tentará não deixar. Se tiver pernas e caminhar
normalmente até 2018, poderá causar sérios danos políticos ao líder do PAIGC e
seu staff político.
FONTE: O Democrata
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