Há 22 anos no poder, Yahya Jammeh anunciou que, afinal, não reconhece os
resultados das eleições de 1 de dezembro. Acusou a Comissão Eleitoral
Independente de "erros inaceitáveis".
Num discurso transmitido pela televisão, na noite de sexta-feira
(09.12), o Presidente em exercício da Gâmbia anunciou que "não vai
aceitar os resultados das eleições presidenciais". Yahya Jammeh recua assim
em relação ao que afirmara anteriormente. Depois do anúncio da vitória de Adama
Barrow, Jammeh reconheceu a derrota e anunciou estar disponível
para uma transição pacífica de poder.
"Da mesma forma que aceitei os resultados acreditando que a
Comissão Eleitoral Independente era independente, honesta e credível, rejeito
[agora] os resultados na sua totalidade", afirmou Jammeh. Investigações ao
escrutínio de 1 de dezembro revelaram "erros
inaceitáveis" por parte da Comissão Eleitoral Independente,
justificou o Presidente gambiano.
"Vamos voltar às urnas, porque quero ter a certeza de que todos os
gambianos votam sob uma comissão imparcial, independente, neutral e livre da
influência internacional", acrescentou Jammeh, há 22 anos no poder.
Adama Barrow venceu as eleições presidenciais
de 1 de dezembro
Face ao anúncio do Presidente gambiano surge o receio de instabilidade
no país da África Ocidental. Informações dão conta que soldados colocaram sacos
de areia em pontos estratégicos da capital, Banjul, na sexta-feira, o que gera inquietação
no seio da população, que já se tinha abastecido com alimentos antes da
votação, com medo de instabilidade.
Segundo resultados oficiais, Adama Barrow venceu as eleições
presidenciais com 43.29% dos votos, enquanto Yahya Jammeh obteve 39.64%. O
escrutínio teve uma participação de 59% dos eleitores.
Depois do anúncio dos resultados, o atual chefe de Estado reconheceu a
derrota num discurso transmitido pela televisão - para surpresa geral
- desencadeando celebrações um pouco por todo o país.
Críticas à decisão de Jammeh
A porta-voz da oposição da Gâmbia, Isatou Touray, criticou nas redes
sociais o anúncio de Jammeh, considerando-o uma "violação da democracia”.
Isatou Touray apelou à população que se mantenha "calma, lúcida, vigilante
e que não recue".
As
eleições decorreram em clima de
O vizinho Senegal também condenou os últimos desenvolvimentos. Em
comunicado, o ministro senegalês dos Negócios Estrangeiros, Mankeur
Ndiaye, afirmou que "rejeita e condena fortemente esta declaração" e
"exige que o Presidente cessante respeite sem condições a escolha
democrática livremente expressa pelo povo da Gâmbia", que "organize a
transmissão pacífica do poder" e que "garanta a segurança e a
integridade física do Presidente eleito", Adama Barrow.
O Governo do Senegal apelou ainda à Comunidade Económica dos Estados da
África Ocidental (CEDEAO), à União Africana e às Nações Unidas para que, em
conjunto, adotem medidas que salvaguardem os resultados das eleições na Gâmbia
e respeitem a soberania do povo.
Em comunicado, o Departamento de Estado norte-americano,
considerou a decisão de Yahya Jammeh "inaceitável" e uma
"tentativa atroz de minar um processo eleitoral credível e de ficar no
poder ilegitimamente."
Yahya Jammeh governa a Gâmbia com mão de ferro desde que chegou ao
poder através de um golpe de Estado em 1994. O seu regime é acusado de prender,
torturar e matar os seus opositores, segundo grupos de defesa dos direitos
humanos.
Yahya Jammeh considera que houve "erros inaceitáveis" nas
eleições em que saiu derrotado
Fonte: DW África
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