Gambianos elegem um novo Parlamento esta quinta-feira. São as primeiras eleições desde a queda do regime de Yahya Jammeh. Mas o ex-Presidente ainda tem muitos apoiantes no país.
"Lutas como um leão, Yahya
Jammeh, queremos-te de volta", cantam apoiantes do ex-Presidente da Gâmbia
durante uma ação de campanha da Aliança Patriótica para a Reorientação e a
Construção (APRC).
Jammeh foi derrotado nas eleições
presidenciais de dezembro passado, mas, ao longo de várias semanas, recusou
sair do poder. A Gâmbia mergulhou numa crise política até
o ex-chefe de Estado partir para o exílio na Guiné Equatorial.
Adama Barrow, o líder da oposição coligada contra Jammeh, tomou posse como
Presidente. Mas, meses depois, muitos suspiram pelo antigo
chefe de Estado.
"Yahya Jammeh contribuiu
bastante para o desenvolvimento do país. Ele ainda é o líder do APRC",
afirma Modou Njie, um dos candidatos do partido de Jammeh às legislativas.
"Esteja ele aqui ou não, há pessoas que o representam aqui e vão assegurar
que as ambições políticas da juventude gambiana vão perseverar."
Memórias terríveis do passado
Fatoumata Jawara espera, no entanto,
que isso não aconteça. No ano passado, a ativista política foi torturada e
espancada por protestar contra o regime de Jammeh. Agora, candidata-se pelo
partido do novo Presidente, o Partido Democrático Unido (UDP).
"Para mim, esse regime corrupto
nem deveria ter um assento sequer no Parlamento pela forma como trataram o povo
gambiano. Eles nem deviam ser autorizados a permanecer na Gâmbia. As pessoas
foram assediadas, espancadas, mortas, torturadas. E eles querem trazer isso de
volta. Ninguém gosta disso", afirma.
Ao todo, 239 candidatos de nove
partidos disputam 53 lugares no Parlamento da Gâmbia. E, contra a vontade de
Fatoumata, prevê-se que o partido de Jammeh conquiste vários assentos.
Oposição que apoiou Barrow divide-se?
Agora que Yahya Jammeh já não está no
país, a coligação de partidos que apoiou o novo Presidente Adama Barrow nas
presidenciais também apresenta sinais de fissuras. Mas se Barrow não conseguir
uma maioria que o apoie no Parlamento, poderá ter dificuldades em cumprir com o
que prometeu nas presidenciais: mais liberdades para os cidadãos gambianos e a
inversão de muitas das políticas de Jammeh.
Vários observadores esperam uma
participação eleitoral alta nas legislativas desta quinta-feira.
"O Presidente Jammeh era um
ditador. Agora, precisamos urgentemente de deputados para mudar as leis que não
são boas", diz um comerciante da localidade de Serekunda, Pa Keita. Não é
o único a pensar assim. Muitas pessoas sentem que, pela primeira vez em décadas,
o seu voto pode realmente conduzir a mudanças.
Para estas eleições o Governo
gambiano convidou, pela primeira vez, observadores eleitorais da União
Europeia. Segundo Thomas Boserup, um dos responsáveis da missão, "as
campanhas eleitorais têm sido pacíficas e ordeiras".
Boserup remeteu, porém, uma avaliação
detalhada para depois do escrutínio.
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