Lula da Silva condenado a nove anos e seis meses de prisão por corrupção
É o primeiro Presidente do Brasil condenado por um crime. Para já, e até ao recurso, fica em liberdade.
Um pequeno terramoto político aconteceu esta
quarta-feira no Brasil, com a condenação do antigo Presidente do Brasil, Luiz
Inácio Lula da Silva, a uma pena de nove anos e seis meses de prisão por
corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no âmbito de um processo em que estava
acusado de ter beneficiado de dinheiro desviado de contratos da Petrobras pela
construtora OAS, para pagar obras num apartamento triplex na praia do Guarujá,
no estado de São Paulo.
PUB
O antigo Presidente e líder histórico do Partido
dos Trabalhadores (PT) é, actualmente, o político brasileiro mais bem
posicionado nas sondagens para as eleições de 2018. É, ao mesmo tempo, aquele
que obtém maior taxa de reprovação, 45%. Com uma carreira de mais de 40 anos de
intervenção pública, Lula desperta paixões e críticas em doses iguais. A sua
condenação vem acrescentar mais tumulto e confusão na já conturbada vida
política do país, baralhando todas as contas e deixando a corrida presidencial
para a sucessão de Michel Temer completamente aberta.
O juiz federal Sérgio Moro, responsável pela
Operação Lava Jato, lançada em 2013 para investigar o esquema de corrupção
montado em torno da empresa petrolífera estatal brasileira, Petrobras,
considerou Lula da Silva culpado de três crimes de corrupção passiva,
praticados entre 11 de Outubro de 2006 e 23 de Janeiro de 2012, e outros três
crimes de lavagem de dinheiro, entre 8 de Outubro de 2009 até 2017.
Esses crimes resultam de pagamentos de 2,2 milhões
de reais (cerca de 592 mil euros) que foram feitos pela empresa de construção
OAS, para obras de beneficiação de um apartamento no edifício Solaris que era
utilizado pela família de Lula da Silva. O antigo Presidente sempre desmentiu
que essa propriedade lhe pertencesse.
Recurso
No entanto, como escreveu o juiz Moro, o argumento
de que o imóvel nunca foi registado no seu nome não colhe, uma vez que o antigo
Presidente “foi beneficiado materialmente por débitos da conta geral de
subornos [da Petrobras], com a atribuição a ele e à sua esposa, sem o pagamento
do preço correspondente, de um apartamento triplex, e a realização de custosas
reformas no apartamento, às expensas do grupo OAS” – cujos executivos Léo
Pinheiro, antigo presidente da empreiteira, e Agenor Franklin Medeiros também
foram condenados, a dez anos e seis anos de prisão, respectivamente.
Segundo
a acusação, a OAS também suportou os custos do transporte e armazenamento de
bens pessoais do antigo Presidente, já depois do fim do seu mandato: o tribunal
avaliou as suspeitas de 61 crimes de lavagem de dinheiro, entre Janeiro de 2011
e Janeiro de 2016, o que configuraria “continuidade delitiva”. No entanto, o
antigo Presidente foi absolvido desses crimes, tal como o presidente do
Instituto Lula, Paulo Okamotto.
“Entre os crimes de corrupção e lavagem, há
concurso material, motivo pelo qual as penas somadas chegam a nove anos e seis
meses de reclusão, que reputo definitivas para o ex-Presidente Luiz Inácio Lula
da Silva”, justificou o juiz federal Sérgio Moro, que no seu despacho de
sentença considerou que a prisão de um antigo chefe de Estado “não deixa de
envolver certos traumas”, pelo que recomendou que Lula ficasse a aguardar a
ratificação da sua decisão por um tribunal de segunda instância em liberdade.
Lula da Silva já não beneficia do chamado foro
privilegiado que a legislação brasileira concede aos detentores de cargos
públicos. Mas pode, como qualquer cidadão, recorrer da sentença: como escrevia
a Folha de São Paulo, “pelo entendimento do Supremo”, o cumprimento da pena
fica suspenso até à deliberação da instância superior – neste caso, o Tribunal
Regional Federal da 4.ª Região, em Porto Alegre (que em anteriores casos
demorou em média um ano e dez meses a analisar as decisões de Moro). A defesa
já fez saber que vai apresentar recurso.
Se
a sentença for mantida, Lula da Silva terá de cumprir a pena. Mas se a decisão
do recurso não for proferida até Outubro de 2018, o cadastro de Lula continuará
limpo, e o antigo líder do PT poderá ser candidato à presidência do país.
Segundo a última sondagem do instituto Datafolha, publicada a 26 de Junho, o
antigo Presidente é o favorito à vitória na primeira volta, com 29 a 30% das
intenções de voto, seguido por Jair Bolsonaro, com 16%, e Marina Silva com 15%.
Segundo a mesma pesquisa, Lula venceria Bolsonaro numa segunda volta, mas
empataria com Marina Silva (ambos com 40%). E, num cenário hipotético, seria
derrotado pelo juiz Sérgio Moro (44%-42%), que nunca manifestou qualquer
intenção de concorrer à presidência.
Esta foi a primeira sentença do antigo Presidente
brasileiro, de 71 anos, que é arguido noutros quatro processos resultante da
investigação Lava Jato. Uma dessas acções é conduzida por Sérgio Moro, e diz
respeito a suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro proveniente da
construtora Odebrecht e usado na compra de um terreno para o Instituto Lula.
Nas outras três Lula responde perante a Justiça Federal de Brasília, pelos
crimes de obstrução da justiça, tráfico de influência e organização criminosa.
Todos estes processos estão ainda na fase de instrução.
FV/PÚBLICO
FV/PÚBLICO
Sem comentários:
Enviar um comentário