Jovens muçulmanas decididas em ajudar a erradicar excisão genital na Guiné-Bissau
Aissatu Baldé e Djenabu Baldé, duas jovens muçulmanas da Guiné-Bissau disseram hoje à Lusa que estão "apostadas" em ajudar a comunidade islâmica do país a abandonar a prática da mutilação genital feminina (MGF) por não "representar nada de bom".
As duas têm o mesmo apelido, mas não são da mesma família. Acreditarem que com o que hoje sabem "sobre os perigos para a saúde da mulher" podem ajudar na mudança da mentalidade em relação ao MGF.
Aissatu, jornalista numa rádio de Bissau, e Djanabu, assistente social, estão determinadas mas afirmam que depois de terminarem um ação de formação que está a ser ministrada pela jornalista portuguesa, Carla Adão, a um grupo de 30 jovens, sobretudo profissionais de comunicação social, estarão "ainda mais capacitadas para o combate", dizem.
As duas jovens, de 28 e 35 anos, respetivamente, foram submetidas, em criança, à excisão, mas ambas garantem que se fosse hoje não aceitariam a prática e é isso que vão passar a explicar as outras mulheres e raparigas muçulmanas.
Aissatu e Djenabu vivem em Bissau, mas têm familiares no interior do país, zona onde, reforçam, persiste ainda a prática da excisão, por se acreditar que faz parte das recomendações do Islão, o que negam.
A jornalista portuguesa, Carla Adão, enalteceu o facto de o fenómeno estar a decrescer na Guiné-Bissau, mas sublinhou a importância do trabalho de consciencialização que, disse, deve ser mantido para erradicar por completo a prática.
A meta é atingir os 13% de mulheres que ainda insistem em defender a manutenção da MGF, diz a jornalista portuguesa, lembrando que os últimos dados apontam que há quatro anos as defensoras da prática se situavam em 36 por cento.
"Há uma evolução das mentalidades, mas enquanto houver uma menina a ser excisada é um trabalho a ser feito", defendeu Carla Adão, convidada do Comité Nacional para o abandono das praticas nefastas à saúda da mulher e criança.
A prova da mudança das mentalidades, diz Carla Adão, é também o facto de, durante a formação, as jornalistas que sofreram a excisão "falarem abertamente" do fenómeno citando as suas próprias experiências.
O Comité é dirigido pela antiga ministra dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau, Fatumata Djau Baldé, que diz que conta com jovens como Aissatu e Djenabu para "levar a mensagem às comunidades islâmicas".
Djenabu foi recrutada "há três meses" para o Comité como ativista. Djau Baldé espera que ela e outras jovens vão ajudar a "baixar ainda mais" as estatísticas que dizem que em quatro anos a prática da excisão no país desceu de 39 para 30% nas crianças dos zero aos 14 anos.
FV/Lusa
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