É deveras triste a realidade vigente na Guiné-Bissau. Triste!
A 19 de Novembro de 1863, Abraham Lincoln, considerado por muitos como o mais importante Presidente norte-americano, proferiu um discurso político que se tornou essencial para a história da democracia ocidental.
Lincoln fez um forte apelo que ecoou por todo o mundo e que também nos dias de hoje ainda alimenta o sonho, a esperança e a fé de alguns jovens guineenses que acreditam numa Guiné que sirva a todos os guineenses:《QUE O GOVERNO DO POVO, PELO POVO E PARA O POVO JAMAIS DESAPARECERÁ DA FACE DA TERRA》.
É para que esta frase se torne realidade na nossa pátria amada, que labutamos dia e noite na Guiné-Bissau. Daí, diga-se, a compra da nossa consciência, por parte de políticos que apenas olham para os seus umbigos está absolutamente fora de questão.
Políticos que ainda assim, conseguem distrair alguns jovens menos atentos ou com limitações e dependências. Pessoas bem identificadas na nossa praça, sempre próximas dos que estão no Poder.
É exatamente para libertar a mente desses grupos que ainda são escravos do sistema político instalado na Guiné-Bissau, usados como instrumentos de retaliação e de defesa contra indivíduos que trabalham dia e noite para que possam efetivamente andar com os seus próprios pés e pensar com as próprias cabeças, que assumimos a responsabilidade de fazer a nossa parte em nome da cidadania.
Quando somos confrontados, nas ruas de Bissau, com atitudes agressivas, debates de baixo nível e ameaças encomendadas por políticos guineenses e executadas por inocentes, só para defender um sistema que não lhes deu educação, nem saúde de qualidade, nem água potável, muito menos paz social, menos ainda o direito a uma vida condigna merecida, sentimo-nos obrigados a fazer ainda mais horas extras no cumprimento do nosso dever cívico e profissional para promover a verdadeira mudança de mentalidade e despertar consciências para uma cidadania ativa.
Só assim, quiçá, salvaremos os nossos filhos dessa tamanha desgraça e será possível na Guiné-Bissau um governo do povo, pelo povo e para o povo.
É por demais evidente que o sistema é sempre poderoso, tem mais meios para manipular, dividir e insinuar para melhor servir-se do Estado. Mas nós povo, vimos no fim do comunismo um muro cair em Berlim e a liberdade abraçar a unidade nacional, reerguendo um dos territórios mais fustigados pela Segunda Guerra Mundial. Vimos um negro ser eleito Presidente da Nação mais poderosa do mundo, numa era em que a Igreja católica tem um Papa Sul-Americano; vimos o guineense mais criticado de sempre em Portugal a marcar o golo mais importante que alguma vez a Seleção Portuguesa marcou e passou de patinho feio para herói nacional, e ainda vimos, entre muitas coisas, um país sem campeonato interno, sem grandes estrelas de futebol, sem Orçamento de Estado, nem programa do governo e mergulhado na mais grave crise política de sempre a abrir o maior evento desportivo de África, o CAN2017. Ainda vimos um jovem de 39 anos, centrista, assumir a presidência da potência europeia, a França.
Tudo é possível. Tal como foi possível fundar a nossa nação no meio de uma mata em 24 de setembro de 1973, quando ainda se contava o número de cadáveres dos que preferiram morrer para que a História deste país fosse contada em todo mundo, como sendo a de um povo que lutou até conquistar a sua Liberdade.
Acreditamos que é possível preparar uma nova geração de guineenses com a ambição de reconstruir a sua terra, na base de um projeto credível assente nas reais necessidades do povo, sem, no entanto, lançar uns contra outros.
Vê-se claramente que os políticos que protagonizam a atual crise política conseguiram lançar o coração da população, os jovens, uns contra outros, fazendo-lhes perder o foco no essencial de forma deliberada.
E tiram maior proveito político/pessoal possível com essa distração dos jovens nos ataques verbais, insultos num tom mais agressivo, refutando qualquer situação de contraditório que não lhes interesse.
Os políticos devem reparar que nos dias que correm, paulatinamente algo está a transformar a sociedade guineense para uma cidadania mais ativa.
É de chamar-lhes a atenção para o facto de dois movimentos prós e contras mobilizarem para as manifestações maior número de pessoas do que qualquer partido político. Um alerta a levarem em conta num futuro próximo!
Independentemente dos dois grupos, aqui referenciados, os cínicos não sabem que há um número cada vez maior de jovens, longe do sistema, que pensam com as suas mentes e caminham com os próprios pés, porque ainda acreditam no legado da força da nossa União, deixado há 43 anos.
Há um exemplo que gostaria de citar. É o caso do jovem Saibana Baldé que quando terminou o curso superior em Portugal, regressou ao país que o viu nascer com um projeto que, por si só, já colocou 85 jovens guineenses em universidades portuguesas.
Não tenho a memória de algum político que tenha, sem o cunho de Estado, um projeto com sucesso como o de Tchintchor.
É também o caso do Fernando Casimiro, o Didinho, que há 14 anos dorme apenas cerca de quatro horas por noite, para despertar consciências, motivar, acarinhar, apoiar e divulgar uma Guiné Positiva.
Temos muitos jovens competentes feitos escravos nas instituições privadas que operam no país, nomeadamente, bancos, empresas de telecomunicações, unidades hoteleiras entre outros. Ganham pouco em comparação com os colegas doutros países e trabalham mais e mais horas. São jovens que gostariam de servir o aparelho de Estado, mas como?
Os próprios filhos dos atuais políticos na Guiné-Bissau são jovens extremamente inteligentes, muito competentes, humildes e profissionais nas suas áreas de formação superior. É pena que assistam impávidos à forma como os pais se afundam num sistema político que não funciona. Eles foram completamente engolidos pelos problemas estruturais do Estado guineense, sem muita margem para o sucesso na governação.
Acredito que num futuro próximo, quando chegar esse governo do povo, pelo povo e para o povo, os filhos desses políticos caminharão juntos, de mãos dadas, com o filho do camponês, do alfaiate, ou do mecânico de bicicletas para levar avante a nobre missão de construir uma nação próspera tanto almejada.
Nessa altura, os pais, nas bancadas, sem pensão, porque nada fizeram para tal, perceberão o quão perderam muito tempo nas disputas políticas desnecessárias, quando foram dadas oportunidades soberbas de limpar caminhos para as gerações vindouras.
Perdermos quase três anos em vão, sim, porque a democracia não é perfeita. O inadmissível seria repetir os mesmos erros de um passado recente. Aliás, a implementação da democracia e a construção de um Estado de Direito nunca foram processos fáceis de pacificar e bem-sucedidos nos países pobres com a falta de recursos humanos.
A Libéria, palco de vários golpes de Estado, agora está estável. O Uganda e o Ruanda só agora se reencontraram e são exemplos dos países, que no pós-conflito têm dos PIBs mais altos do nosso continente, a nossa África que na década de 1990 assistiu a uma autentica proliferação de golpes de Estado, enquanto que hoje contam-se pelos dedos das mãos os países em guerra, no continente berço da humanidade.
Vários países passaram por crises profundas, genocídios, catástrofes naturais, guerras que destruíram cidades, vilas e mataram seus cidadãos provocando a fome, mas hoje estão em paz social e a um ritmo de desenvolvimento muito considerável.
Será que os políticos da Guiné-Bissau não podem pensar, doravante no bem coletivo? O que seria o bem coletivo na perspetiva dos nossos políticos? E por que que fazem política?
A actual conjuntura guineense interessa àqueles que criam fortunas pessoais em nome do bem-estar do povo. Criam instabilidade política em nome da estabilidade governativa.
Fazem desacordos em nome dos acordos, ao ponto de instituições internacionais mediarem discussões estéreis: se a reunião teve ata; se a ata teve assinatura; se houve consenso, se acordo assinado deve ou não ser implementado, quem deve ser PM; quem fará parte do novo governo ou qual é o partido que terá a maior fatia. Sempre foi assim, mas ficam a saber, que não será assim para sempre.
O atropelo às leis do país, principalmente a sagrada Constituição da República, tem sido uma constante.
Banalizaram um Estado, outrora respeitado a nível mundial, alegando repor a ordem do Estado. Fazem das disputas partidárias o cerne das preocupações do nosso Estado. Fica-se com a sensação de que um partido político é mais importante que o Estado que é a República soberana da Guiné-Bissau e ainda esperam que se faça um jornalismo de militância!
É deveras triste a realidade vigente. Triste!
Estão a dar um mau exemplo à juventude. É muito mau incitar a violência.
Acredito verdadeiramente que [enquanto jornalista] consegui sempre manter aqueles que são os valores cruciais da imparcialidade, da independência. Acredito que sou/ serei respeitado em todos os cenários pelas diferentes partes porque nunca servi de instrumento duns contra outros, parafraseando António Guterres enquanto Alto Comissão para os Refugiados.
É sempre bom acordar a mente dos cínicos que pretendem tapar o sol com a peneira e dizer-lhes que ainda não há dinheiro no mundo que compre a consciência de um jovem que viu seu pai morrer com as cicatrizes das torturas a que foi alvo para que este país se tornasse livre e independente.
Jovens como eu, não aceitam qualquer tipo aliciamento quando a maioria está a sofrer. Não se deixam comprar com uma oferta de emprego no Estado, porque defendem a abertura de fábricas que vão empregar milhares de jovens desempregados e frustrados.
Jovens como eu não exercem a cidadania ativa a troco de uma bolsa de estudo, porque defendem a abertura de centenas de universidades por todo o país com professores competentes e bolsas de estudo para os guineenses das zonas remotas do interior do país.
Jovens como eu revêem-se naqueles que se sacrificaram até entregar uma nação libertada aos guineenses.
Políticos guineenses, esta é a vossa vez, desfrutem do Poder, mudem a Guiné-Bissau de uma vez por todas. A história ensinou-se que somos mais fortes unidos. Vocês são capazes de mudar o rumo de acontecimento, acredito!
Braima Darame
21.05.2017
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