terça-feira, 23 de maio de 2017

Cidadãos Conscientes e Inconformados
Jovens na sua maioria. Jovens…
Entre formados, empregados, desempregados, professores, estudantes etc. decidiram assumir a direção das suas vidas, dos seus direitos cívicos, renunciando ao velho slogan “DJITU KA TEM” e abraçando a crença do POSSÍVEL.
Decidiram desafiar o sistema, o medo, a mentira e conseguiram, duma forma excecional e pela primeira vez na história da Guiné-Bissau, colocar o povo na rua para exigir a renúncia de um Presidente.
Numa República com registos de crimes de sangue impressionante. Crimes essas que atingiram de forma gritante os anais do poder politico e militar. Num país onde o povo letrado aproveita de tudo para continuar a cegar o iletrado, numa Republica de inversão de valores…estes jovens levantaram e ousaram dizer “BASTA”.
Uns não falam deles por ciúmes (normal). Outros falam deles por inveja (normal), outros tentam aproveitar deles por ganancia (normal), mas hoje graças a Deus muitos falam deles humildemente com muito orgulho (normalíssimo).
Podem estar errados na apreciação dos factos. Podem estar errados na identificação do alvo, podem estar errados nos métodos e nos procedimentos, mas de uma coisa se tem a certeza: eles sabem o que estão fazendo, sabem o que querem para este país, conhecem os riscos e estão dispostos a enfrentar os obstáculos.
Quando brotaram, muitos duvidaram. Alguns disseram: “é a mesma história. Vão ladrar e depois serão silenciados com o dinheiro”. Afortunadamente até hoje continuaram firmes, alimentados unicamente pelas suas convicções.
Silenciá-los? Tentaram, tentaram, tentaram mas não conseguiram.
Na impossibilidade de combate-los com fatos, com ideias claras através dos debates, decidiram lançar uma onda de calúnia e difamação: FORAM COMPRADOS. Felizmente ou infelizmente, até hoje ninguém conseguiu provar uma só acusação contra os membros desta organização, mas ainda a procissão vai no adro.
Como não conseguiram travar esta caminhada heroica e triunfal com a calúnia, decidiram passar pela forma mais “nobre’ do modus operandi do politiqueiro guineense: aliciamento. Tentaram varias vezes de diferentes formas mas não conseguiram. O mais brutal foi a audiência com o PM Sissoco, onde deu cheque em branco ao Movimento, mas a resposta foi inequívoca: “não estamos nisso por dinheiro, nem para conseguir favores e oportunidades. O que queremos é o fim da crise e a renúncia do Presidente”. Ele ficou perplexo: “vocês não estão bem da cabeça…recusando dinheiro”?
Sendo assim passaram pela feição mais avançada de tirar uma pedra no sapato. Resolveram usar a tradicional forma de aplacar qualquer revolução. A forma violenta.
Espancaram e prenderam os ativistas numa vigília pacífica. Tentaram assassinar um dos membros da direção deste movimento na sua residência. E hoje, depois de mais de 40 dias, nenhum sinal positivo por parte das autoridades no que respeita a identificação e responsabilização dos autores morais e materiais. Pior de tudo, é quando se tem a informação que, o alegado autor material do ato (tentativa de homicídio), foi promovido na PIR (Policia da Intervenção Rápida) pelas autoridades atuais.
Desistiram? Não… NUNCA.
Enquanto uns procuram 5.000 para ir a discoteca, outros esperam 2.000 ou 3.000 para ir as ruas bater palmas aos políticos…estes jovens sacrificaram, nos seus bolsos míseros, 5.000 e 10.000 francos cada um, para ir numa missão de consciencialização cívica.
Foi o que aconteceu no dia 21-05-2017. O incrível nisso não foi apenas o pagamento do montante de 5.000 francos para quem vai viajar para Farim; O incrível não foi apenas o pagamento de 10.000 francos para aqueles que não conseguirão viajar, o incrível certamente não foi deixar a Bissau numa final de semana de “comes e bebes”… mas o incrível mesmo, o incrível o incrível de tudo, foi a travessia do rio Farim na piroga (Canua), correndo risco de vida, para ajudar na mudança de mentalidade da população rural, no que respeita aos direitos cívicos.
Com tudo isso será que esta juventude ainda merece ser crucificada?
FV/MCCI

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