Em
entrevista exclusiva à DW, Simões Pereira diz que "não é completamente
inocente" a nova postura do Presidente da Guiné-Bissau de pretender
controlar as pescas. E acusa o Governo de fechar os olhos à entrada de droga.
O
líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC)
acusou, na Cidade da Praia, o Presidente José Mário Vaz de estar ligado ao
negócio do narcotráfico na Guiné-Bissau. "Não sou eu que estou a dizer, há
organizações da sociedade civil que apresentaram elementos sobre isso",
disse à DW África Domingos Simões Pereira.
E
essas organizações "têm relatórios objectivos a demonstrar na Guiné-Bissau
quem é quem e quem é que está ligado a essas práticas menos corretas",
argumenta o antigo primeiro-ministro, que esteve na capital cabo-verdiana
no último fim de semana para o XV Congresso do Partido Africano da
Independência de Cabo Verde (PAICV).
"Eu
penso que não é completamente inocente esta nova postura do Presidente da
República em pretender controlar as pescas", afirmou ainda o presidente do
PAIGC, partido vencedor das últimas eleições na Guiné-Bissau, mas arredado do
poder.
"É
através das pescas e através das unidades marítimas que tentamos fazer o
controlo das águas territoriais guineenses em relação ao arquipélago dos Bijagós. Quando um só homem
tenta chamar a si toda esta responsabilidade, ele não está a pretender que o
povo compreenda o que acontece, ele está a esconder algo do povo",
acrescentou.
Em
declarações à DW África, Domingos Simões Pereira também acusou o Governo de
Umaro Sissoko Embaló de estar a facilitar a entrada de droga no país. "Se
telefonar, alguém em Bissau vai dizer-lhe que na placa do Aeroporto
Internacional Osvaldo Vieira está estacionado um avião que é utilizado pelo
Governo da Guiné-Bissau de forma indiscriminada que não passa pelos circuitos
normais de controlo, que ninguém escrutina o que leva e o que recebe",
afirma.
Acordo
de Conacri por cumprir
Na
semana passada, o presidente da Comissão da Comunidade Econômica dos Estados de
África Ocidental (CEDEAO), Marcel de Souza, pediu os dirigentes políticos da
Guiné-Bissau que respeitem o Acordo de Conacri para estabilizar o país
e reacendeu a questão sobre os três nomes então falados e no consenso à volta
de Augusto Olivais.
"Obtivemos
em Conacri uma lista de três nomes para a chefia do Governo e o consenso que
conseguimos foi por Augusto Olivais, mas foi Umaro Sissoko que foi
nomeado", lembrou Marcel de Souza.
Domingos
Simões Pereira diz que este reconhecimento público peca pela demora: "O
único lamento que tenho é que tenha levado tanto tempo para o presidente da
Comissão da CEDEAO tornar público aquilo que todos nós sabíamos desde outubro
de 2016".
O
presidente do PAIGC afirma ainda que o Governo de Umaro Sissoko Embaló está em situação de ilegalidade, por não ter
conseguido a discussão e aprovação no Parlamento do seu programa e do Orçamento
Geral do Estado. "Ouvi há dia o Presidente a dizer que ele não pode
sancionar o Governo, porque é a Assembleia Nacional Popular que não convoca a
sessão para se poder aprovar o programa. É mais uma tentativa de forçar a barra
jogando contra tudo e todos e um pontapé na nossa Constituição", critica.
Ilhas
em troca de cooperação
Segundo
Domingos Simões Pereira, José Mário Vaz também quis oferecer ilhas da
Guiné-Bissau ao Rei de Marrocos e ao ex-chefe de Estado português Aníbal Cavaco
Silva.
"Isto
não aconteceu só com o Rei de Marrocos. Quando se começou a falar de uma
provável visita do então Presidente de Portugal, Cavaco Silva, foi o primeiro
momento em que me abordou, dizendo que se nós oferecêssemos uma ilha ao Presidente
Cavaco Silva nós ganhávamos um nível de proximidade e de cooperação",
conta.
A crise política na Guiné-Bissau começou em
agosto de 2015 quando o Presidente José Mário Vaz demitiu o primeiro-ministro
eleito Domingos Simões Pereira. Desde então já houve mais quatro governos, mas
nenhum conseguiu a aprovação do Parlamento.
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