Secretário-geral diz estar
"profundamente preocupado". Especialistas ouvidos pela DW África
afirmam que a situação exige consenso entre parceiros internacionais. Solução
pode passar “ao lado” da Constituição.
O Conselho de Segurança da ONU debate
esta terça-feira (14.02) o relatório elaborado pelo Gabinete Integrado para a
Consolidação da Paz na Guiné-Bissau (UNIOGBIS) que pretende ajudar ao
restabelecimento da estabilidade política no país.
No documento, do qual foram já
revelados, na semana passada, alguns conteúdos, António Guterres,
secretário-geral da ONU, assume-se "profundamente preocupado com a
prolongada crise política” no país e recomenda que o mandato da missão das
Nações Unidas para a Consolidação da Paz na Guiné-Bissau (UNIOGBIS) seja
prolongado por mais um ano, ou seja, até 28 de fevereiro de 2018. A missão
deverá focar-se agora nas eleições legislativas e presidenciais, marcadas para
2018 e 2019, respetivamente.
Apelo a José Mário Vaz
Neste relatório, o Gabinete Integrado
das Nações Unidas para a UNIOGBIS apela ao Presidente guineense, José
Mário Vaz, e aos signatários do Acordo de Conacri, que honrem o compromisso
firmado em outubro do ano passado. Detalhando que os objetivos da missão para
os próximos três anos passam por "implementar reformas-chave para o êxito
das eleições e para um período pós-eleitoral estabilizado”, o documento deixa
ainda um alerta: se até ao final da atual legislatura e mandato presidencial
"não houver progressos significativos", o Conselho de Segurança
"deve reconsiderar as opções para o futuro papel da UNIOGBIS”.
Situacão exige consenso entre parceiros
internacionais
Com o objetivo de estabelecer
contactos com os parceiros internacionais, vários políticos guineenses
deslocaram-se a Nova Iorque, incluindo o primeiro-ministro, Umaro Sissoco
Embaló, o presidente do Parlamento, Cipriano Cassamá, e o líder do PAIGC,
Domingos Simões Pereira.
Ovídio Pequeno, representante da
União Africana na Guiné-Bissau, considera que o momento é delicado e exige uma
posição comum entre os principais parceiros internacionais do país. "É
preciso que os parceiros internacionais ajam em consonância, que tenham posições
comuns”, afirma.
Para este responsável, a tensão
política que se vive em Bissau é preocupante. "Necessitamos que haja
diálogo e que as partes possam sentar-se, discutir e encontrar caminhos que
possam levar o país para a frente. Precisamos de paz e estabilidade social”,
afirma o representante da União Africana, acrescentando que "a linguagem
está muito extremada".
Por seu lado, Rui Nené Djata,
vice-presidente do Supremo Tribunal de Justiça, admite que a solução pode
passar por acções não previstas na Constituição. Segundo este, para o país sair
desta crise e alcançar a "almejada estabilidade politica”, "é
preciso um Pacto Nacional Político e Social que pode até derrogar a Constituição”.
Declaracões "incendiárias” de José
Mário Vaz
A crise política no país teve inicio
em agosto de 2015 quando o Presidente da República, José Mário Vaz, demitiu o
primeiro-ministro eleito – líder do PAIGC -, Domingos Simões Pereira. A partir
daí, o país mergulhou numa crise política que continua sem fim à vista – mesmo
depois de Umaro Sissoco Embaló ter sido nomeado primeiro-ministro, no final do
ano passado.
Na semana passada, a participação de
José Mário Vaz na cerimónia de encerramento de um simpósio internacional para a
Paz, Desenvolvimento e Estabilidade na Guiné-Bissau acabou por intensificar a
troca de críticas. O presidente guineense afirmou que, tirando o "bloqueio
deliberado" do Parlamento, a Guiné-Bissau vive numa situação de calma e
tranquilidade total.
Um discurso que Cipriano Cassamá, líder do
Parlamento da Guiné-Bissau, classificou como "incendiário, inapropriado e
inoportuno". Em resposta às declarações do Presidente da República,
Cipriano Cassamá volta a frisar que o atual Governo não obedeceu aos acordos
firmados entre a classe política pelo que não poderá ter qualquer apoio do
Parlamento.
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