A
população gambiana aguarda com expectativa o regresso de Adama Barrow, previsto
para esta quinta-feira, uma semana depois de tomar posse como Presidente, em
Dakar. Tropas da CEDEAO têm garantido a segurança em Banjul.
O
anúncio do regresso de Adama Barrow à Gâmbia foi feito pelo porta-voz do novo
chefe de Estado, Halifa Sallah: "Há dois dias, ele disse-me que estaria
aqui na quinta-feira (26.01)".
Segundo
o porta-voz, antes de voltar ao país, o novo Presidente quis "agradecer às
pessoas que contribuíram para resolver a disputa política na Gâmbia, em
paz", e realizar consultas. "Ligou-me na noite passada e disse que
decidiu finalmente voltar às 16:00 de quinta-feira", revelou.
Uma
força regional da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO)
tem estado a garantir a segurança em Banjul, capital da Gâmbia, para o regresso
de Adama Barrow.
Tropas
da CEDEAO em Banjul
O
chefe de Estado pediu que as tropas se mantenham na Gâmbia durante seis meses,
mas ainda não é claro se os líderes da CEDEAO vão aprovar a operação.
Barrow
refugiou-se no Senegal, depois de o seu antecessor, Yahya Jammeh, ter recusado
aceitar a sua vitória nas presidenciais de dezembro. Jammeh, que esteve 22 anos
no poder, partiu para o exílio na Guiné Equatorial, no sábado (21.01),
sob forte pressão internacional.
Nova
era Gâmbia-Senegal?
Nos
últimos dias, muitos observadores têm questionado a longa estadia de Adama Barrow em Dakar. Thomas
Volk, da Fundação Konrad Adenauer, no Senegal, considera que se trata de uma
questão de segurança, lembrando que muitos militares fiéis a Yahya Jammeh têm
de ser convencidos de que Barrow foi eleito Presidente.
Macky
Sall, Presidente do Senegal
Certa,
dizem os analistas, é a renovação das relações entre a Gâmbia e o Senegal nos
próximos tempos, após a intervenção de Dakar na resolução da crise política
gambiana.
Até
agora, a relação entre Yahya Jammeh e o seu homólogo senegalês, Macky Sall, foi
sempre complicada.
"A
Gâmbia viveu uma ditadura brutal, com violações dos direitos humanos e uma
situação que levou quase um em cada dois gambianos a deixar o país",
explica Thomas Volk. "Já o Senegal é uma âncora de estabilidade na África
Ocidental, um país exemplar que evoluiu no sentido de uma democracia
estável", sublinha.
Conflito
de Casamança
Desde
a separação dos dois países que a relação é tensa entre a Gâmbia e o Senegal.
Segundo historiadores, Dakar sempre se ressentiu da separação do território. E
a contribuir para a tensão esteve o conflito na região senegalesa de Casamança,
onde os rebeldes lutam desde a década de 80 pela independência. Muitos
observadores alegam que Yahya Jammeh forneceu armas aos rebeldes.
O
porta-voz do novo chefe de Estado gambiano, Halifa Sallah, admite que o
conflito na fronteira com a Gâmbia se agravou sob a liderança de Jammeh. Mas
ressalva que "se tivesse havido um grande desenvolvimento em Casamança, o
problema já estaria resolvido, independentemente de Jammeh querer influenciar o
processo de alguma forma."
Ainda
assim, com a saída de Yahya Jammeh, vários analistas consideram que o Senegal
espera resolver a crise em Casamança.
E
embora as relações ao nível da administração tenham sido extremamente difíceis
sob o Governo de Jammeh, as populações dos dois países sempre se viram como um
povo, diz Halifa Sallah, frisando que senegaleses e gambianos partilham a mesma
cultura. O porta-voz do novo Presidente espera que as relações entre a Gâmbia e
o Senegal melhorem muito com a Presidência de Adama Barrow.
Antes disso, diz Thomas Volk, da Fundação Konrad
Adenauer, no Senegal, é preciso trabalhar ao nível interno: "É altura de
olhar para a frente, restaurar a unidade do país e entrar numa nova era de
sucesso para a pequena Gâmbia."
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